Em setembro, o governo dos Estados Unidos anunciou que estava banindo
o uso do software de antivírus da Kaspersky Labs nas máquinas de seus
funcionários. Uma guerra verbal se seguiu e nesta segunda-feira (18), a
Kaspersky apresentou uma ação judicial alegando que seus direitos foram violados.
Em uma publicação em seu blog,
o co-fundador da empresa e CEO Eugene Kaspersky insistiu que o
Departamento de Segurança Nacional dos EUA rejeitou repetidamente suas
tentativas de esclarecer quaisquer confusões sobre o software, e ao
fazer isso negaram o direto da Kaspersky Labs a um processo justo antes
de expedir uma diretiva operacional que foi formalizada pelo presidente Donald Trump na semana passada.
Kaspersky escreveu:
No dia 19 de setembro de 2017, o Diário Oficial do
Governo Federal dos Estados Unidos emitiu uma notificação anunciando a
expedição da Diretiva Operacional Obrigatória 17-01, na qual o
Departamento de Segurança Nacional indicou que a Kaspersky Lab poderia
iniciar uma revisão da Diretiva ao submeter informações por escrito, o
que a companhia fez no dia 10 de novembro de 2017. No entanto, esse
“processo administrativo” não cumpriu o devido processo com a Kaspersky
Lab sob a lei americana, já que a empresa não teve a oportunidade de ver
e contestar as informações invocadas pelo Departamento de Segurança
Nacional antes da emissão da Diretiva. Como eu disse antes, “o genuíno
processo justo oferece a você a oportunidade de se defender e ver as
evidências contra você antes que as ações sejam tomadas; e não pediria
para que você respondesse uma vez que a ação já está sendo tomada”.
Ele continuou escrevendo que apenas uma pequena porcentagem da
receita da Kaspersky Labs vem de softwares licenciados para o governo
federal dos Estados Unidos, mas que “as ações do Departamento de
Segurança Nacional causaram um impacto adverso desproporcional e
injustificado nos interesses de negócios relacionados com consumidores
comuns, comerciais, locais, estaduais e de educação, nos Estados Unidos e
globalmente”.
O Departamento de Segurança Nacional deu pouca informação ao público
sobre a sua motivação para a instituir a proibição do software. Diversas reportagens
indicaram que a Kaspersky chegou a ajudar a agência de inteligência
russa, FSB. Fontes anônimas contaram a repórteres que a inteligência
israelense observou agências russas utilizando o software como um ativo pessoal e indicaram que a Kaspersky Labs coletou documentos confidenciais da máquina de um funcionário da NSA que levou o seu trabalho para casa sem autorização. A Kaspersky posteriormente confirmou
que seu software detectou “um gerador ilegal de chaves de ativação do
Microsoft Office” no computador do funcionário da NSA. Segundo a
companhia, o funcionário precisou desabilitar o software de antivírus
para ativar o software pirata e possivelmente um terceiro furtou os
documentos secretos enquanto a máquina estava vulnerável.
Oficialmente, o Departamento de Segurança Nacional tem sido vago
sobre as motivações para a proibição do software. Em um comunicado, eles
disseram que “o Departamento está preocupado com as ligações entre
determinadas autoridades da Kaspersky e a inteligência russa e de outras
agências governamentais, além de exigências da lei russa que permitem
que as agências de inteligência do país solicitem ou exijam assistência
da Kaspersky e para interceptar as comunicações que transitem em redes
russas”.
Kaspersky publicou
cartas que foram enviadas para a administração de Trump em julho e em
agosto na qual ele se oferece para trabalhar com o governo americano
para prover garantias da integridade de seu software. Ele afirma que,
apesar de sua oferta para compartilhar o código-fonte do produto e o
código-fonte de quaisquer atualizações, não houve nenhuma cooperação.
Todo esse episódio é meio confuso. É verdade que o governo americano
possui uma razão maior para ter cuidados com uma empresa baseada na
Rússia e que pode ter acesso aos seus sistemas, principalmente depois da
conclusão de que a Rússia tentou se meter nas eleições de 2016. Porém, o
próprio presidente se recusa a admitir que a Rússia fez algo de errado e
apareceu ao lado de Putin
quando ele negou as acusações. No final das contas, pouco foi feito
para evitar futuros problemas de segurança. Na verdade, a comissão de
“integridade eleitoral” de Trump só serviu para tornar as informações pessoais do eleitorado ainda mais vulnerável a pessoas maliciosas.
Kaspersky insiste que sua empresa se mantém neutra ao trabalhar com
qualquer governo e que trata todos os malwares de forma igual. A Agência
Nacional de Segurança certamente tem uma rixa com a Kaspersky Labs,
após a empresa revelar as atividades do The Equation Group, uma unidade de hacking de elite que foi vinculada à NSA.
É difícil tirar uma conclusão de tudo isso, especialmente quando o
Departamento de Segurança Nacional se nega a publicar as evidências que
têm em mãos contra a Kaspersky. Mas se tudo acontecer como o planejado,
um tribunal distrital irá em breve avaliar se os direitos da empresa
foram ou não violados.
Fonte: Gizmodo