O Google apresentou uma pequena câmera de lifelogging na
quarta-feira (4), durante seu evento do Pixel 2. Chamado de Clips, o
pequeno dispositivo pode ser segurado com as mãos, grampeado na roupa ou
colocado em alguma superfície plana enquanto usa inteligência
artificial e reconhecimento facial para “capturar imagens bonitas e
espontâneas” da sua vida. Assim como acontece com maioria das câmeras
feitas para registrá-lo constantemente, o primeiro instinto de muitas
pessoas foi: caramba, isso é assustador.
Mas, para ser justa, ela não é mais assustadora do que vários gadgets parecidos que vieram antes. A Narrative, por exemplo, era uma câmera de lifelogging pequena que, diferentemente das três horas de vida da bateria da Google Clips, conseguia capturar informações por até dois dias, em uma roupagem muito mais discreta. O Echo Look, da Amazon,
pode não estar constantemente tirando fotos de você, mas ele foi feito
para ficar no seu quarto, indiscutivelmente um dos lugares mais íntimos
para se colocar uma câmera na sua casa. E isso sem falar nas câmeras e
microfones de seus notebooks, tablets e smartphones. Se você acha o
Clips uma invasão à privacidade, você não está errado. Mas ele é só uma
gota em um oceano de um estilo de vida altamente vigiado que você já
leva.
As pessoas voluntariamente sacrificam sua privacidade e dão boas
vindas a produtos assustadores em sua vida quando eles se provam úteis o
bastante. O Facebook funciona porque ele colhe seus dados para vender
anúncios, e a empresa é assustadoramente habilidosa
em detectar pessoas que você talvez já conheça ou possa querer
conhecer. Mas você não deletou sua conta no Facebook, deletou? E se o
fez, você parou de pesquisar coisas no Google também? Se você usa
internet e tem um celular, você quase certamente está sendo monitorado.
A utilidade da Clips que a torna única ainda é incerta para mim. O
que importa nesse dispositivo, no fim das contas, não é se as pessoas
estão assustadas com ele, mas, sim, se o Google pode, de fato, oferecer
aos usuários algo de valor. Se o produto for bom, as pessoas já
demonstraram que abrem mão de sua privacidade de bom grado.
E o Google precisa convencer as pessoas de que elas precisam fazer lifelogging,
uma tendência em grande parte inútil que, na melhor das hipóteses,
parece estar pendurada por um fio. Já estamos em uma época em que é
incrivelmente simples capturar momentos com um celular que carregamos em
nosso bolso o tempo todo.
A Google Clips tem como público-alvo pais de filhos pequenos e donos
de animais de estimação, com o sucesso do dispositivo condicionado à
disposição dessas pessoas de documentar mais horas de suas vidas. Ele é
mais sofisticado que as atuais câmeras de lifelogging; vai usar
aprendizado de máquina tanto para fazer uma curadoria de seus momentos
quanto para fazer reconhecimento facial e automaticamente destacar as
pessoas (e gatos e cachorros) com quem você mais passa seu tempo. E se o
Google realmente conseguir fornecer fotos incríveis e vídeos curtos
perfeitos a ponto de seus usuários amarem de verdade o dispositivo, não
vai fazer diferença se a câmera parecer algo que lembra a distopia de 1984, de George Orwell.
Não, o aspecto assustador da Google Clips não vai acabar com a
câmera, mas se sua inteligência artificial não corresponder e o Google
não pensar em uma boa razão pela qual mais pessoas deveriam começar a
registrar cada momento de seus dias, então a irrelevância do produto
certamente vai.
Fonte: Gizmodo