Já notou como os filmes do Christopher Nolan (Interestelar, A Origem, O Grande Truque)
dão a sensação de um ataque de ansiedade? Bem, talvez isso seja um
exagero. Mas o diretor tem, sim, um gosto por criar um grau enervante de
tensão. Acontece que ele está usando um pouco de magia musical para
alcançar isso.
A magia é, na verdade, uma ilusão de áudio científica chamada de
escala de Shepard. Com nome em homenagem ao psicólogo Roger Shepard,
pioneiro em nossa compreensão de relação espacial, o efeito soa como uma
escala infinitamente ascendente ou descendente. Os tons estão
constantemente se movendo para cima ou para baixo, mas eles nunca
parecem alcançar um ápice ou um ponto mais baixo. Isso é conquistado ao
empilhar as escalas umas sobre as outras — tipicamente, uma escala de
agudo, uma de médio e outra de grave — com uma oitava entre elas, então
tocando-as em repetição contínua.
A escala de Shepard é às vezes chamada de “poste de barbeiro”
do som. Você até consegue ver a semelhança, quando a ouve e olha para a
visão do espectro de uma escala de Shepard. Não ouça isso por muito
tempo, ou você pode enlouquecer:
Enfim, o Christopher Nolan simplesmente ama isso. Com seu colaborador
de longa data Hans Zimmer, o aclamado diretor usou escala de Shepard em
quase todos seus filmes da última década. Ele até escreve seus scripts
de maneira que combinem com o efeito. Em uma entrevista recente, Nolan explicou como ele usa as escalas de Shepard em seu mais novo filme, Dunkirk:
O roteiro havia sido escrito de acordo com princípios
musicais. Existe uma ilusão de áudio, se você quiser chamar assim, na
música chamada de “escala de Shepard“, e, com meu compositor David Julvan, em “O Grande Truque“,
exploramos isso e baseamos muito em cima disso. E é uma ilusão em que
existe uma ascensão contínua de tom. É um efeito saca-rolhas. Está
sempre subindo e subindo, mas nunca sai do alcance. E escrevi o roteiro
de acordo com esse princípio. Eu entrelacei as três linhas do tempo de
maneira que exista uma sensação de intensidade contínua. Intensidade
crescente. Então eu queria construir a música em princípios matemáticos
semelhantes.
Sabendo disso, você ganha uma compreensão mais profunda sobre filmes como Interestelar, A Origem, e O Grande Truque.
Isso também explica por que esses filmes parecem, de alguma forma,
inconclusivos. Uma escala de Shepard cria um conflito que não pode ser
resolvido, assim como os enredos de Nolan.
Fonte: Gizmodo