“Você conheceu Jacob?” é a primeira pergunta que me fazem, dentro de
uma pequena sala de reunião, no coração do campus do Facebook, Menlo
Park, onde fãs de teclado de toda a região da área da baía de São
Francisco atravessaram a chuva para mostrar suas criações. Muitos deles
gastaram milhares de dólares em suas coleções de teclados, com teclas e
interruptores customizados.
A maioria dessas pessoas (primariamente homens) tem conversado no Reddit, DeskAuthority, geekhack,
e Discord há anos. Eles se comunicam de formas que a maioria de nós
nunca ouviu falar, e com o tempo, formaram panelinhas. Embora a maioria
dos teclados sejam mecânicos,
com grandes molas em cada tecla, existem alguns adeptos de membranas no
grupo, que usa o mecanismo mais esponjoso similar ao que tem no seu
velho teclado Dell que você não toca há anos.
Um teclado sem fio feito à mão. (Imagem: Alex Cranz/Gizmodo)
Em um canto, tem um garoto com um teclado que você poderia comprar em
qualquer lugar. Ele está se aproximando de um grupo que parece de pais e
avôs que colecionam teclados há anos. Outro, um engenheiro do Facebook,
de fato construíu seu teclado mecânico Bluetooth porque ele achou que
os teclados mecânicos sem fio do mercado eram um lixo.
Um teclado Planck feito à mão. (Image: Alex Cranz/Gizmodo)
Perto da mesa de lanches estão alguns funcionários mais novos do
Facebook. Um deles tem um teclado Planck, um teclado popular que você
precisa construir você mesmo, soldando interruptores e placa de
circuitos (PCB) à mão. Ele até programou o dele para fazer altos
barulhos de videogame, em grande parte para irritar seus colegas de
trabalho.
Mas uma mesa está cheia de teclados de fãs de todos os grupos. Eu dou
uma olhada conforme eu absorvo os teclados customizados e importados,
mas todo mundo com quem eu falo me aponta para a direção de uma mesa.
“Você já falou com Jacob?”.
“Não”, eu digo para eles. Mas eu vou falar com ele. Jacob Alexander é
o homem que me fez voar metade do continente para encontrar. No mundo
dos fãs de teclados, Alexander, conhecido como Haata nos fóruns, é rei,
uma lenda da comunidade online e fora dela. Ele é um dos líderes de um
novo tipo de inovadores pronto para revolucionar a digitação.
A princípio, parece uma ambição ridícula. Apesar da riqueza de
conhecimento dos homens e mulheres da comunidade de fãs de teclados,
eles ainda estão apenas expandindo em um sistema tão sólido que não muda
em 144 anos. Nós estamos apertando teclas com os dedos em algum tipo de
teclado desde que a máquina de escrever Sholes and Glidden foi lançada
em 1873, e o desenho dos teclados tem se mantido bem consistente. Raros
designs alternativos como a mais antiga bola de escrever Hansen (1870), a linha ergonômica Maltron (1977) ou o teclado customizável Planck
(2015) são exceções. Ainda assim, isso não dissuadiu Jacob Alexander.
Ele genuinamente acha que existe mais a ser feito com o principal
dispositivo de entrada dos nossos computadores.
Um raro teclado Maltron da coleção de Jacob Alexander. Feito para ser usado com apenas uma mão. (Imagem: Alfonso Solis/Gizmodo)
Depois do encontro de quatro horas, Alexander cuidadosamente embrulha
os teclados que ele trouxe, que ele desenhou com seus parceiros na
pequena startup Input Club. O começo do show foi o K-Type,
uma placa branca com LED multicolorido ao redor da base e teclas
acesas, mas alguns fãs ainda estavam de olho no mais antigo White Fox,
que foi lançado em dezembro de 2015 e não tem todas as luzes chamativas.
Começado em 2014
por Alexander e sua turma, o Input Club e seus teclados altamente
antecipados ficam no centro dessa nova mania que está rapidamente se
espalhando online. Os fãs de teclados do Reddit dizem ter perto de
200.000 membros, e a comunidade como um todo é grande o bastante para
apoiar companhias inteiras, como os fabricantes de teclas Signature Plastics, e importador de teclado Mechanical Keyboards Catalog. Por enquanto, Alexander e os outros quatro membros do Input Club
tratam a fabricação de teclados como um projeto paralelo, e se
sustentam com outros empregos. À noite eles se encontram online para
desenvolver seus planos de construção e venda de novos teclados, e
ganhar dinheiro com o sucesso de seus projetos anteriores, como o White
Fox.
O White Fox regularmente aparece no MassDrop, um site popular que
organiza compras de grupo em desconto diretamente com os fabricantes. O
White Fox vende cerca de 2.000 unidades sempre que entra na promoção, e
então fica muito mais caro no eBay ou no MechMarket
do Reddit. Quando ele não está disponível no MassDrop, você pode
esperar gastar algo entre US$ 200 ou US$ 300 em um White Fox pré
montado. Por comparação, um teclado mecânico da Logitech custa a partir
de US$ 80.
As
teclas azul claro do White Fox para esc e direção imediatamente chamam
atenção aos olhos. O K-Type é maior e é reconhecível pelos LEDs.
(Imagem: Alex Cranz/Gizmodo)
O teclado mais recente do Input Club é o K-Type, que acabou de ser lançado no MassDrop.
É um teclado com dez teclas a menos, o que quer dizer que o teclado de
números foi retirado para diminuir o seu tamanho. Ele é facilmente um
dos teclados mais confortáveis que eu já usei, com uma base sólida de
alumínio com LED multicolorido percorrendo suas beiradas, e algumas das
luzes mais claras que eu já vi em um teclado.
A maioria dos membros dos fãs de teclados tendem a ignorar teclados
com luzes, os vendo como sendo parte de uma moda ou de entusiastas
gamers, mas o K-Type já tem seu culto nos fóruns com milhares prontos
para gastar US$ 200 no teclado. Ninguém pode me dizer precisamente por
que eles gostam dele contra um teclado chamativo da Razer ou Logitech. A
não ser Alexander.
Um brilhante K-Type. (Imagem: Alex Cranz/Gizmodo)
Conforme ele me segue até meu carro alugado, Alexander exalta as
virtudes do K-Type. “Não é perfeito, mas é mais próximo do que eu
enxergo que podemos fazer com teclados”, ele disse. Ele nota como todas
as configurações padrão são guardadas no próprio teclado. Quer trocar a
tecla Esc pela Tab, ou mudar o Caps Lock com o Shift? Ou talvez você
finalmente esteja pronto para abandonar o padrão QWERTY pelo hipster Colemak,
que completamente rearranja a ordem das teclas para colocar as usadas
mais frequentemente nos dedos mais fortes. É só uma questão de usar o
firmware open source do Input Club para mudar as coisas. Quando ele
estiver instalado em um teclado, não existe software extra necessário
para carregar no computador, o que quer dizer que ele se lembra das
configurações de computador para computador. É algo mínimo para a
maioria das pessoas, mas para essa legião de fãs, é grande coisa.
Quando chegamos no carro, a chuva que tinha caído o dia todo
finalmente parou e virou uma neblina. Ela embaça os óculos de Jacob e
gruda em seu cabelo loiro claro. ele é um sujeito alto, alongado como um
jogador de basquete, com um sorriso esquisito que não tem como você não
achar charmoso.
Imagem: Alfonso Solis/Gizmodo
E ele nunca para com seu entusiasmo. Ele estava de pé há mais de
quatro horas, mas conforme pegamos uma viagem de quarenta e cinco
minutos de Menlo Park para seu laboratório no centro de San Jose ele não
para de falar. Ele tem grandes sonhos e está feliz em compartilhá-los,
confessando que ele entrou no Input Club e construiu seu laboratório de
teclados porque talvez mais do que qualquer outras pessoa no encontro do
Facebook, ele “quer mudar a forma como digitamos”.
Porém ele não consegue me dar exatamente o que tem visado. Não tem
uma ideia futurista que ele está tentando compartilhar comigo. Ao invés,
ele está tentando refinar e melhorar os teclados que já temos. A
maioria de nós está usando laptops que usam interruptores tesoura,
ou estamos usando teclados baseados em membranas nos nossos escritórios
junto com nossos computadores. Os realmente infelizes estão escrevendo
numa superfície de vidro de um tablet ou usando um teclado de iPad
terrível. Alexander acha que todos nós podemos ter uma experiência
melhor.
Embora o teclado pareça simples o bastante, existe muito acontecendo
dentro que muda as dinâmicas de como digitamos. Existem fatores óbvios,
como o tipo de interruptor, o formato da tecla, ou a disposição da
placa. Também tem a entrada: Bluetooth ou USB-C ou o USB 3.0. Ou o
software, que deixa você programar que tecla envia que sinal ou que
tecla brilha com qual cor. Existe até a placa PVB: A placa de circuito
onde os interruptores são ligados.
Uma visão de perto de uma PCB. Cada pedaço prateado foi soldado a mão por Jacob. (Image: Alfonso Solis/Gizmodo)
Jacob e seus colegas do Input Club, como o resto da comunidade de
teclados, tem uma fascinação por esses componentes todos. E Jacob me
diz, na nossa viagem até San Jose, que ele não acha que essas peças tem
recebido a atenção devida das grandes empresas. É por isso que ele quer
“perturbar” o mundo dos teclados e fazer inovações que façam os grandes,
como Razer e Logitech, repararem. O que é possível. Um representante da
Logitech com quem falamos estava ciente do White Fox e tanto a Razer
quanto a Logitech admitiram ao Gizmodo que eles observam pequenos
produtos que chamam bastante atenção.
Alexander fala como os gigantes tecnológicos que Silicon Valley
endeusou. No entanto ele não é um daqueles nerds da próxima geração que
povoam as firmas de investimento que vemos em Nova Iorque. Ele é
inequivocamente um geek.
E se você por algum acaso não reparar isso em uma reunião de teclados
na área de baía de São Francisco, isso fica imediatamente aparente
quando você entra no seu laboratório, que fica situado no último andar
de um dos prédios mais antigos e altos de San Jose. Eu vejo o sol se for
desse ótimo ponto de vantagem conforme ele cuidadosamente desembrulha
os teclados e os devolve para a sua coleção de mais de 500.
Jacob em seu laboratório Input Club em San Jose. (Imagem: Alfonso Solis/Gizmodo)
Alexander tem colecionado eles há anos agora. O que começou como um
hobby quando ele estava estudando no Japão, se transformou em um
laboratório completo.
O laboratório é separado em três grandes partes. Uma é uma área de
descanso usada primariamente pelo dono do espaço. Me lembra de um
escritório em qualquer startup mal direcionada. Tem uma grande TV e uma
mesa de bilhar, e aquela vista impressionante da cidade. Jacob gasta seu
tempo nas outras duas partes do espaço. De um lado, tem uma mesa cheia
de teclados indo até os anos 60, de lugares distantes como a Rússia.
Atrás deles tem uma série de estantes. Cada uma com dezenas de caixas de
papelão branco meticulosamente catalogadas com teclados dentro.
Fileira atrás de fileira de teclados guardados em grandes prateleiras que vão até o teto. (Imagem: Alfonso Solis/Gizmodo)
A outra metade do espaço se parece mais com um laboratório
tradicional, tem uma estação para checar a voltagem dos teclados e seus
sinais de entrada e saída. Outra mesa grande está coberta de meia dúzia
de ferros de solda.
A parte mais importante do laboratório de Jacob é que ele é fácil de
não notar. Cada fã de teclado tem um componente que eles gostam mais do
que os outros. “Eu sou um cara dos interruptores”, Jacob disse. Ele é
fascinado com o mecanismo que você aperta para registrar uma entrada no
dispositivo de computação. Interruptores vão dos de membrana usados nos
computadores comuns, aos interruptores tesoura do seu laptop, aos
mecânicos que a maioria dos entusiastas de teclados modernos costuma
gostar.
E cada interruptor mecânico é diferente.
Pessoalmente, eu tenho três tipos na minha mesa, o popular Cherry Brown
que você encontra em um laptop mais fresco, o velho ALP popularizado
pelos teclados mecânicos da apple e os Topres mais novos, que são um
híbrido entre os mecânicos e de membrana.
Cherry foi fundada em 1953 e tem feito interruptores mecânicos desde
1984. É de longe o fabricante mais popular de teclas e a companhia
inspirou diversos “clones” como a Gateron, Kaihua e Zealio. São essses
clones que interessam especialmente Jacob. Apesar de parecerem o mesmo
de fora, cada interruptor tem uma sensação diferente.
Tradicionalmente a sensação é caracterizada ao notar a distância que
leva entre uma tecla “chegar ao fundo” na placa e a quantidade de força
necessária para apertar a tecla. Mas Jacob queria ir além. Ele entendeu
que a força necessária para apertar uma tecla não é constante, mas é uma
curva. Não existe uma máquina disponível para os consumidores ou
startups mediram tal curva de força.
Jacob
em sua mesa de teste de interruptores. Todos esses números em seu
monitor querem dizer alguma coisa. (Imagem: Alfonso Solis/Gizmodo)
Então Jacob construiu seu próprio. Ele adquiriu um dinamômetro que
você pode comprar em qualquer loja de suprimentos e o colocou em robô
conectado ao seu computador. Desde que montou essa mesa, Jacob mediu centenas de teclas.
Isso inclui cada interruptor nos teclados de seu laboratório, além de
muitos construídos por fãs que fazem o teclado do zero. Ele faz isso com
uma facilidade praticada, e ele me guia através do processo, o que pode
levar mais de dez minutos para cada interruptor. Precisa de muitos
códigos complicados que ele faz na hora em uma janela de terminal do seu
desktop baseado em Linux.
Testando a curva de força de um interruptor Zealio usando o equipamento customizado de Jacob. (Image: Alfonso Solis/Gizmodo)
Quase todas as noites, quando a maioria de nós estaria desligando
nossos cérebros depois de trabalhar o dia todo, Jacob vai até seu
laboratório, junta um monte de teclas e as testa, geralmente ficando até
às onze ou mais tarde. “Eu consigo testar umas trinta por noite”, ele
admitiu.
Quando seu colega do Input Club, Andrew Lekashman me disse sobre a
máquina de teste, que ele defendeu como parte da devoção do Input Club
em construir o teclado perfeito e decidir precisamente que interruptor
instalar na próxima placa. Mas os objetivos privados de Alexander são um
pouco mais ousados. “Os teclados foram ignorados desde os anos 80”, ele
disse, “estou tentando ajudar o resto da comunidade de teclados, os
empurrando para frente”.
Alexander e seus amigos do Input Club não são os únicos hobistas que
tem esperança que suas inovações se transformem em trabalhos em tempo
integral. A comunidade dos teclados está crescendo. Um dos centros da
comunidade, r/MechanicalKeyboards no reddit, ganha mais de 1.000 seguidores toda semana. A indústria apoiada por esses fãs também está crescendo.
Jesse Vincent, centro, mostrando o Keyboardio Modelo 01 em um encontro de teclados recente. (Imagem: Alex Cranz/Gizmodo)
No encontro no Facebook, Jesse Vincent mostrou seu enorme Keyboardio
Model 01. Depois de Jacob ele é o cara que as pessoas que sabem do que
estão falando me encorajam conhecer. Sua parceira, Kaia Dekker, está
ausente, mas Jesse tem energia o bastante para segurar a sessão de
quatro horas apesar das frequentes perguntas sobre o seu estranho
teclado ergonômico.
Essa mistura de madeira e máquina começou sua vida como um hobby em
2012, antes de se transformar em um Kickstarter em 2015 que ganhou US$
650 mil. Desde então, o projeto tem encontrado diversos atrasos,
geralmente envolvendo processo de manufatura, um problema comum para
novos empreendedores em sites de crowdfunding. Vincent suspira sempre
que alguém pergunta quando o Model 01 finalmente vai ser lançado. Ele
tem lidado com os apoiadores já há dois anos agora. A primeira leva, ele
diz aos curiosos, a voz com o desespero, deve ser lançada ao final de
2017.
Um close do Model 01. (Imagem: Alex Cranz/Gizmodo)
Henry Liu e seu pequeno time na Zeal PC desenvolveram um culto entre
os entusiastas de teclado também, e diferente do Keyboardio, eles não
tiveram muitas dificuldades de manufatura. Evitando o crowdfunding, e os
problemas de fazer tudo sozinho, Zeal PC se junto com a Gateron em 2015
para fazer os populares interruptores de Liu, os Zealio. Fãs gastam
felizes US$ 1 por interruptor. Isso é mais de US$ 60 só com
interruptores, sem incluir o PCB, caixa, teclas ou trabalho necessários
para transformar esses interruptores em um teclado.
Liu (que atende por Zeal nos fóruns) diz que o negócio é lucrativo o
bastante que apoia ele e outro membro da equipe. “É basicamente eu
trabalho principal”, ele disse ao Gizmodo.
Jacob Alexander é um fã do trabalho de Liu, especialmente com a Gateron. “Ele colocou eles no caminho certo”.
Um interruptor Zealio 62g. (Imagem: Alfonso Solis/Gizmodo)
A chave para o sucesso de Liu é sua atenção ao detalhe quando criou o
interruptor Zealio. Ele começou como uma modificação do popular Cherry
Clear. “Eles chegavam ao fundo com cerca de 100 gramas”, ele diz
imediatamente usando a língua dos fãs de teclados. Clear deveriam chegar
ao fundo em algo próximo a 60g, o que quer dizer que precisaria de
menos força para os usuários apertarem a tecla. O negócio original de
Liu, em 2014, era meticulosamente modificar interruptores individuais e
substituir as molas de cada um à mão.
Então Liu fez um acordo com a Gateron, conhecida por seus populares
clones Cherry, e começou a produzir seus próprios interruptores Zealio. A
principal diferença desses interruptores contra similares da Cherri foi
o processo de modelagem. De acordo com Liu, a Cherry não faz a
manutenção devida dos moldes onde os interruptores são feitos. “Parece
uma lixa”, ele disse. Isso leva a fricção quando você aperta a tecla.
Que, por sua vez, leva à sensação de arranhação que Liu e outros fãs
sentiram.
Fonte: Gizmodo