Conforme a noite cai, espécies de morcego noturnas se levantam de
seus descansos diários para se alimentarem, criando nuvens espetaculares
enquanto saem de cavernas em massa. Mas um olhar mais atento para as
colônias de morcegos frutíferos que saem dos buracos em Cuba revelam um
ritual macabro simultâneo: conforme os morcegos surgem das cavernas, uma
cortina mortal de jiboias cubanas espera em seu caminho, tentando pegar
as criaturas aladas no meio do voo.
É isso mesmo: essas cobras coordenam seus ataques, e o resultado é assustador.
Vladimir Dinets,
professor assistente de pesquisa na Universidade do Tennessee,
Knoxville, estava guiando um tour de observação de pássaros e mamíferos
no Parque Nacional Desembarco del Granma, em Cuba, quando notou pela
primeira vez as cobras caçadoras de caverna. Intrigado por seu
comportamento ousado, ele decidiu observá-las mais de perto.
As jiboias envolvidas poderiam ser todas encontradas se aquecendo
próximas à entrada da caverna durante o dia, enquanto os morcegos
dormiam em uma câmara adjacente, separada por uma passagem estreita.
Quando a luz do dia caía, algumas das cobras se moviam, deixando seus
cantos aquecidos e indo em direção à passagem.
Lá, elas balançavam seus corpos de serpentina do teto, prontas para
atacar conforme os morcegos passavam voando. Outras cobras assumiam
posições de caça semelhantes conforme a noite passava, capturando os
morcegos enquanto eles voltavam. Durante cada oportunidade de
alimentação, Dinets gravou minuciosamente a posição das cobras, assim
como seu sucesso na caça (ou a falta dele).
Após oito dias de gravações, Dinets concluiu que as cobras coordenavam suas caças e publicou seus resultados na Animal Behavior and Cognition.
A primeira jiboia escolhia seu lugar. Então, quando a próxima se
esgueirava, se posicionava próxima à primeira. E se uma terceira cobra
se juntava, ela também se pendurava com as outras. Dinets considerou que
as cobras pudessem apenas todas gostarem das mesmas áreas da passagem,
mas nenhuma cobra escolheu a mesma parte duas vezes durante todo o
estudo, sugerindo coordenação em vez de preferência recorrente por um
local.
E essa coordenação valeu a pena. As jiboias eram significativamente
mais propensas a capturar uma refeição se caçavam juntas. “Observações
visuais sugeriram que maioria dos morcegos conseguiu evitar voar próxima
às jiboias quando havia uma ou duas delas presentes, mas, com três
presentes, os morcegos tinham que voar ou a uma distância impressionante
delas (frequentemente colidindo com as jiboias) ou muito baixo,
próximos do chão”, explicou Dines no estudo.
Embora as cobras tenham se coordenado, não é exatamente preciso dizer
que elas caçaram em grupo como os lobos, já que isso implica um aspecto
social que Dinets não observou. “Não vi evidência de comunicação
direta”, ele contou ao Gizmodo. “Elas apenas levam em conta o
posicionamento umas das outras.”
Ainda assim, a coordenação para maximizar o sucesso de caça é
praticamente desconhecido em répteis (crocodilianos e varanos são
notáveis exceções). “Há um antigo dogma que diz que répteis são, na
maioria das vezes, solitários e burros”, disse Dinets. “Minha descoberta
é só uma de tantas recentes que desafiam isso.”
De maneira intrigante, essa não é a primeira caverna em que serpentes
foram vistas caçando morcegos no meio do voo. O escritor, ecologista e
fotógrafo da vida animal Neil Losin
e seus colegas já observaram estratégia similar entre cobras no Porto
Rico. “Vimos até oito jiboias caçando ao mesmo tempo, e é certamente
‘intimidante’ para os morcegos passarem por isso”, disse. Mas ele e sua
equipe apenas observaram e filmaram, não realizaram nenhum tipo de
ciência quantitativa para determinar se elas estavam coordenando sua
caça.
Também há a famosa Cueva de las Serpientes Colgantes,
perto da vila de Kantemó, no México, onde turistas se reúnem para ver
cobras apanharem morcegos conforme eles saem à noite. Mais uma vez,
ninguém observou-as atentamente para determinar coordenação. Mas,
considerando o número de exemplos desse tipo de alimentação em caverna,
“é possível que a caça coordenada não seja incomum entre cobras”,
afirmou Dinets. “Mas vai ser preciso realizar muita pesquisa de campo,
com paciência, para descobrir isso.”
Fonte: Gizmodo