A Asus já está percorrendo o caminho dos smartphones há algum tempo no
Brasil, com alguns acertos e erros. Na área de aparelhos de entrada, a
empresa acertou em cheio com o Zenfone 5 em preço e qualidade, embora o
processador Intel fosse um empecilho em compatibilidade e consumo de
energia, mas errou feio com seu sucessor, o Zenfone Go, que era pior que
seu antecessor.
Já na área intermediária, a empresa se destacou com o Zenfone 2, que
tinha um preço altamente competitivo por ser o primeiro celular a ser
lançado com 4 GB de memória RAM. A promessa era que ele seria capaz de
enfrentar os tops de linha muito mais caros, mas não foi exatamente isso
o que aconteceu. Seu design era pouco inspirado, a câmera não chega no
mesmo nível dos concorrentes e o desempenho só era comparável aos tops
de linha da geração anterior, além da bateria fraca.
O que é possível extrair disso tudo, é que houve erros e acertos
em termos de preço e qualidade ao longo da trajetória da Asus até
chegarmos ao Zenfone 3. A empresa parece ter tirado grandes lições do
que foi feito no passado.
Design

Talvez seja a diferença mais gritante entre tudo o que a
companhia fez no passado. O Zenfone 3 aposta em uma estética mais
próxima do Galaxy S6 e S7, que usa um revestimento em vidro que torna a
traseira reluzente e elegante. A comparação com o plástico tosco usado
no Zenfone 2 faz parecer com que os dois aparelhos nem são feitos pela
mesma empresa.
Outra alteração que fez muito bem ao celular foi a remoção das
bordas na parte superior e inferior, tornando o smartphone mais enxuto.
Para isso, a Asus tirou o logo da parte da frente do aparelho (todas as
fabricantes deveriam fazer isso) e jogou para trás; além disso, a
barrinha dos círculos concêntricos, tão característica da marca, também
foi removida, já que não tinha utilidade alguma. No lugar, agora os
botões de volume e liga/desliga agora traz a textura que é típica da
empresa.
Isso dito, nem tudo é perfeito no aparelho. A escolha pelo vidro como material de acabamento sempre é criticada por nós do Olhar Digital
por dois motivos: a traseira fica com marcas de mão, gordura e
impressões digitais com facilidade e passa sensação de fragilidade, de
que tudo vai se desmanchar com qualquer impacto, o que impede que ele
seja usado com naturalidade.
Apesar desta sensação, durante nossos testes, foi possível
perceber que ele não é tão frágil quanto parece, já que o nosso aparelho
acabou caindo de uma altura considerável (cerca de 1,5 metro) e ainda
assim saiu sem arranhões. Ponto para a Asus, mas também é importante
notar, que a opção pela traseira de vidro faz com que o celular se torne
escorregadio e, portanto, mais propenso a quedas. O Zenfone 3 escorrega
na mesa que é uma beleza, então cuidado ao operá-lo sobre uma
superfície plana.
Outro detalhe que era incômodo no Zenfone 2 e que não foi mudado
na versão 3 são os botões de navegação do Android, que não emitem
nenhuma luz, o que dificulta um pouco o uso do celular no escuro. Um
corte de custos desnecessário.
Mas, de um modo geral, o Zenfone 3 é um acerto em estética e uma evolução enorme em relação ao modelo do ano passado.

Desempenho
Antes de mergulharmos em termos de desempenho, precisamos deixar
claro qual foi o modelo do Zenfone 3 que nós testamos, porque existem
três variações do aparelho, que carregam exatamente o mesmo nome.
O celular que experimentamos foi a versão mais avançada e cara
com 4 GB de memória RAM e 64 GB de armazenamento interno, com tela de
5,5 polegadas, que custa R$ 1.900. Existem versões mais baratas com 2 GB
ou 3 GB de RAM, mas a tela é de 5,2 polegadas (pra que tanta confusão,
Asus?), com preço variando entre R$ 1.500 e R$ 1.700, mas não podemos
falar sobre elas.
O modelo que nós testamos é um intermediário de altíssima
qualidade, capaz de combater de frente o Moto Z Play e a linha Galaxy A
da Samsung, sem deixar nada a desejar em desempenho, e com preço
inferior. Seu chipset Snapdragon 625 o coloca no mesmo patamar de
celulares tops de linha lançados no ano passado, ficando muito perto da
velocidade alcançada pelo Snapdragon 810 de acordo com testes de
benchmark como o AnTuTu.
Isso significa que usar o Zenfone 3 é uma experiência lisa de um
modo geral. Meu celular é um Nexus 5x, do qual eu gosto bastante, mas
reconheço suas limitações. Sua memória RAM de apenas 2 GB faz com que o
multitarefa capengue em alguns momentos, o que eu não senti com o
Zenfone 3, que tem o dobro de memória e um processador basicamente tão
potente quanto. Jogos que eu não consigo rodar de forma satisfatória no
meu celular, funcionaram no Zenfone 3.
O bom desempenho vem aliado de uma bateria de boa duração,
resultado do abandono dos processadores Intel da geração passada, que
ofereciam velocidade acima da média, mas com o custo de consumir energia
demais. O Zenfone 3 equilibra bem as duas coisas.
Nos nossos testes, o celular da Asus ofereceu duração de mais de 1
dia de uso sem precisar de uma recarga, normalmente chegando às 36
horas de uso sem interrupções. Isso é resultado de uma bateria de boa
capacidade (3.000 mAh) e boas escolhas de componentes internos.
Tela
A tela do Zenfone 3 não é exatamente um destaque do aparelho. A
versão do aparelho que testamos tinha um painel de 5,5 polegadas com
resolução 1920x1080, o que é uma boa resolução, mas nada acima da média;
na verdade, está precisamente na média do mercado.
A opção por não avançar para os displays de 2560x1440, vistos em
celulares mais caros como o Galaxy S7 e o Moto Z, é ótima por dois
motivos. Primeiro: os painéis Full HD são mais baratos que os de 2K,
contribuindo para um produto mais econômico. Segundo: menos pixels
concentrados na tela também contribuem para menos consumo de energia, o
que faz a bateria render mais.
A Asus optou por restringir o display Super AMOLED ao Zenfone 3
Deluxe, que é uma versão muito mais parruda e cara do celular, o que é
uma pena, já que a tecnologia traria maior brilho, mais contraste e
economia de energia em comparação com o Super IPS+ aplicado no painel do
celular.
Nos nossos testes, o Zenfone 3 até teve bons resultados de
visibilidade, possibilitando a visualização da tela em ângulos próximos
aos 180 graus, mas sob a luz do sol não foi tão fácil assim ver o que
estava na tela. Isso é algo que a Samsung domina com maestria, mesmo em
celulares mais baratos do que o da Asus, como é o caso do Galaxy J5.
Câmera

Eu fiquei honestamente e positivamente impressionado com a
qualidade da câmera do Zenfone 3, e admito que não vi nada parecido na
faixa de preço a que ele pertence, nem um pouco mais caro (o S7 é
melhor, mas muito mais caro).
Vamos começar pelo que mais me impressionou: a capacidade de
fotografar com pouca luz. Todo mundo já tentou tirar uma foto à noite,
ou dentro de um bar meio escuro e quando foi olhar para a foto ela
estava toda cheia de ruído, um efeito granulado que distorceu a imagem
original. Eu tive a curiosidade de experimentar fazer uma foto
exatamente em uma mesa de bar, e o resultado foi ótimo, sem qualquer
granulado. Isso é um ponto muito forte, afinal de contas, com boa luz,
qualquer câmera é ótima. É quando está escuro que é possível notar a
diferença de qualidade.
A câmera traseira, de 16 megapixels, tem ao seu favor uma boa
abertura de lentes de f/2.0, que não chega a ser a melhor do mercado,
mas ainda é uma abertura grande quando o assunto são câmeras de celular.
Isso faz uma boa diferença nas fotos, já que permite maior entrada de
luz, o que melhora muito as fotos em locais escuros, porque não é
necessário apostar tão pesado em software para retocar a imagem
capturada pelas lentes, que acaba causando distorções e ruídos.
A abertura de lente também acaba afetando positivamente outro
aspecto da fotografia é a profundidade de campo, obtendo uma separação
interessante entre o objeto da foto e o que está em segundo plano. Você
pode perceber como o bonequinho do Mario está destacado na foto enquanto
o monitor do plano de fundo está borrado na imagem abaixo. Este é um
efeito difícil alcançar com lentes de celular, e geralmente só funciona
bem em câmeras de aparelhos mais caros, como o Galaxy S7 ou o iPhone 7
Plus.

Outro ponto em que eu fiquei impressionado com a câmera do
Zenfone 3 é o nível de controle oferecido ao usuário mais experiente. Na
minha análise do iPhone 7 Plus, eu apontei que a câmera era ótima, mas
pecava em não dar alternativas ao fotógrafo mais avançado. O celular da
Asus, muito mais barato, oferece um bom modo automático para quem não
quer ter estas preocupações, mas também não poupa ajustes finos,
permitindo aumentar radicalmente o tempo de exposição para vários
segundos (ótimo para quem quer desenhar com luz) ou reduzi-lo para
milésimos de segundo, que é bom para aquela fotografia instantânea, mas
depende de uma iluminação muito forte. As opções também incluem controle
de foco e ISO.
Há de ser destacado também que, na faixa de preço, o Zenfone 3 é o
único a oferecer estabilização óptica de imagem (OIS), que ajuda a
compensar possíveis tremores nas mãos na hora de fotografar e gravar
vídeos. Nos nossos testes, o aparelho pecou em suavizar totalmente o
impacto de passos na hora de gravar um vídeo andando, o que causou um
efeito gelatina nas imagens, mas o resultado ainda é muito melhor do que
qualquer aparelho sem OIS. O iPhone 7 Plus foi muito mais capaz de
suavizar o efeito dos passos, mas é um aparelho que também custa muito
mais caro, então a comparação é injusta.
Você pode ver outras imagens capturadas com a câmera do Zenfone 3 abaixo. Clique nelas para vê-las em tamanho cheio.




Software
Se há algum ponto em que o Zenfone não evoluiu muito foi em
software. A Asus ainda não conseguiu acertar a mão com a ZenUI, que
ainda é carregada e exagerada demais, descaracterizando bastante o
Android.
A empresa ao menos teve o bom senso de diminuir o número de
aplicativos pré-instalados que vem com o aparelho. Ao usar o Zenfone 2, o
primeiro passo era gastar uma hora inteira desinstalando 40 apps
inúteis e desativando outros que não podem ser removidos totalmente, o
que está longe de ser uma experiência ideal. O Zenfone 3 não tem tantos
apps pré-instalados, mas ele inova em um aspecto: ao conectar o aparelho
na internet pela primeira vez, ele baixa aplicativos que o usuário não
solicitou, mas pelo menos é possível cancelar o download.
Para tirar proveito máximo do Zenfone 3, é necessário algum tempo
de uso para domar o excesso de recursos da ZenUI. São muitas
notificações desnecessárias chegando a todo instante, são muitos
recursos supérfluos, que podem ser confusos para o usuário menos
experiente.
Se há alguma coisa que o Zenfone faz bem em termos de software
são as opções de personalização. Afinal de contas, um dos grandes
atrativos do Android em comparação com o iOS é a capacidade de dominar
mais profundamente o sistema, e a ZenUI leva este conceito a sério, com
opções estéticas, criação de atalhos, modificações de ícones e tudo mais
que um fanático por customização gostaria.
Para ficar atento: o Zenfone 3 carrega o Android 6.0.1
(Marshmallow), que não é a versão mais recente do Android. A Asus não
tem um bom histórico de atualização de seus celulares, com o Zenfone 2
recebendo a atualização da versão 5.0 para a 6.0 um ano depois do
lançamento e três meses após o prazo prometido inicialmente.
Conclusão
O Zenfone 3 é o melhor intermediário premium do mercado no
momento. Nenhum celular nesta faixa tem um equilíbrio tão bom entre
desempenho, câmera, bateria e preço. O Moto Z Play é hoje o principal
competidor ao celular da Asus, e até chega a ser melhor em termos de
bateria, mas é um pouco mais caro (comparando preços, encontramos o
Zenfone por R$ 1.700 à vista, contra um R$ 1.800 do Moto Z). Ainda
assim, o Zenfone 3 testado ainda tem 4 GB de RAM contra 3 GB do Moto Z.
Isso não significa que o aparelho da Asus seja perfeito. A tela
dele poderia ser melhor, a ZenUI ainda é algo que precisa ser
profundamente repensado, com menos apps pré-instalados, menos bagunça, e
menos notificações desnecessárias. A escolha do vidro torna o celular
radicalmente mais bonito que o Zenfone 2, mas também passa a sensação de
fragilidade, além de se transformar em imã de impressões digitais e
marcas de mão.
Porém, mesmo com todos estes defeitos, o aparelho ainda se
destaca na faixa de preço mais concorrida do momento e é a melhor opção
do momento para quem procura pagar até R$ 2.000 em um celular.
Fonte: Olhar Digital