O iPhone 7 e o iPhone 7 Plus são a quebra de um paradigma que já
durava quase 10 anos para a Apple. Pela primeira vez, a empresa ignorou
sua sequência que previa o lançamento de um aparelho com estética nova
em um ano (iPhone 4, 5, 6), e no ano seguinte um refinamento da
tecnologia, com o ciclo S (4s, 5s, 6s). O iPhone 7 fura essa sequência,
mantendo o mesmo design dos dois aparelhos anteriores.
Então, não é possível afirmar que o iPhone 7 tem um design inovador,
muito pelo contrário. Ele parece uma tentativa de a empresa ganhar tempo
enquanto prepara algo maior para o décimo aniversário do celular. A
menos que você considere a modificação da posição das linhas de antena
como um grande avanço estético.
Isso não significa necessariamente algo ruim, apenas quer dizer que
não há inovação neste aspecto. O iPhone 7, portanto, compartilha as
mesmas qualidades que fizeram seus antecessores serem um sucesso, que é
um visual elegante e sóbrio com materiais refinados e que tornam o toque
agradável.
Isso dito, a principal novidade do iPhone 7 e do 7 Plus é uma
polêmica. Sob a justificativa de ter a “coragem” de mudar, a empresa
optou por remover o conector de 3,5 milímetros usado pelos fones de
ouvido. Esta coragem divide opiniões. Alguns veem como uma decisão de
design que ativamente atrapalha a vida do usuário em vez de
simplificá-la, forçando a adquirir fones novos ou a conviver com
adaptadores; outros dizem que o conector já era uma tecnologia
ultrapassada, como um leitor de disquetes, e que alguém precisa dar o
primeiro passo para substituí-la. Eu me vejo entre o primeiro grupo.
Qualquer que seja sua posição sobre a extinção da entrada de fones,
para usar o iPhone 7 você precisa estar de acordo com a visão da Apple
para o futuro. E essa visão de futuro inclui este obstáculo inicial dos
fones, porque a empresa pretende forçar o avanço da tecnologia sem fio,
com fones Bluetooth, deixando uma entrada física apenas para carregar o
celular (pelo menos até que a recarga sem fio chegue a um patamar
aceitável). Se você não concorda com esta visão, sinto informar, talvez
seja melhor procurar um Galaxy S7 ou algum outro smartphone Android top
de linha de sua preferência, exceto o Moto Z, que tem a mesma decisão de
design do iPhone 7.
Portanto, para usar o iPhone 7 você precisa estar disposto a gastar
dinheiro com novos fones ou abraçar uma vida de adaptadores, que
felizmente são disponibilizados na caixa junto com um par de fones
compatíveis com a entrada Lightning. A empresa poderia suavizar esta
transição incluindo os AirPods na embalagem para os compradores, mas
provavelmente julgou que isso acabaria por encarecer ainda mais o
celular. Afinal de contas, os fones custarão R$ 1,4 mil no Brasil.

A remoção da porta de fones, no entanto, permitiu à Apple adicionar
outras coisas no celular. O iPhone ganhou mais espaço interno para
componentes, o que acabou se refletindo em outras melhorias, sendo a
mais notável o fato de que agora o iPhone é resistente a água. Ele não é
à prova d’água, apenas resistente. Isso significa que não foi feito
para você mergulhar com o smartphone em mãos, mas que vai sobreviver se
por um acaso for derrubado em uma banheira ou no vaso sanitário. A
questão é que outros aparelhos conseguiram fazer isso antes da Apple sem
remover a porta P2.
Além disso, se ficou mais difícil usar fones no iPhone, pelo menos
ouvir música sem eles ficou melhor. A Apple conseguiu instalar um
sistema de som estéreo que melhora demais a reprodução de áudio no
celular. Já era hora de alguma mudança, porque estava ficando feio um
smartphone top de linha, o mais vendido no mundo, ainda preso a um
sistema de som em mono.
O botão Home foi outro que recebeu mudanças aproveitando o espaço
vago internamente no iPhone 7. Curiosamente, o botão não é mais um botão
no sentido literal da palavra, mas é algo que talvez muitos usuários
não percebam. A Apple aplicou uma tecnologia chamada Taptic Engine que
simula a sensação de um clique quando reconhece que o usuário aplicou
pressão na área redonda abaixo da tela. Na prática, a tecla não se move e
apenas vibra quando pressionada. Isso traz uma grande vantagem: o Home
não vai mais quebrar, o que era o defeito mais comum em iPhones.
Contudo, há a desvantagem de que o botão não reconhece toques com luvas,
o que pode ser péssimo em dias frios no sul do Brasil; em países onde
faz frio de verdade, a situação é ainda pior.

Um ponto em que a Apple manteve sua tradição, no entanto, foi com o
processador, que teve sua numeração aumentada, saltando do A9 para o
A10, agora com quatro núcleos de processamento. A empresa também
acrescentou um sobrenome ao chip, cuja alcunha completa passou a ser A10
Fusion. O nome extra pode ser irrelevante, mas o bônus em desempenho
que ele trouxe ao celular certamente não é. Segundo o teste AnTuTu, o
iPhone 7 Plus é o celular mais rápido do mercado, e isso inclui também
os aparelhos Android, com o iPhone 7 ocupando a segunda colocação. A
diferença entre o resultado dos dois se deve ao fato de que o aparelho
maior tem 3 GB de memória RAM contra apenas 2 GB do irmão menor.
A vantagem se reflete em usabilidade. Todos os aplicativos rodam de
forma lisa, o que se deve em muito à forma como a Apple lida com
software e hardware. A partir do momento em que só há dois iPhones por
ano e um tipo de iOS, todos os aplicativos podem ser otimizados para
rodar da forma mais perfeita possível, reduzindo bugs e travamentos
aleatórios, trazendo um grande ganho de desempenho.
A evolução do hardware do iPhone trouxe uma segunda vantagem além do
puro poder de processamento. O processador se tornou mais eficiente, o
que se reflete em economia de bateria e maior tempo de uso entre uma
recarga e outra. Isso é especialmente verdade no iPhone 7 Plus, que pode
abrigar mais energia por ser maior, com 2.900 mAh contra 1.960 mAh do
aparelho menor. Os celulares conseguem aguentar entre uma e duas horas a
mais de uso do que seus antecessores, mas ainda não chega a superar um
dia inteiro de uso como alguns de seus competidores Android. Acostume-se
a carregar o celular de 12 em 12 horas, o que não chega a ser uma marca
ruim, já que é tempo o bastante para aguentar um dia de trabalho.

No entanto, a principal evolução, especialmente quando falamos do 7
Plus, é a sua câmera. A Apple decidiu seguir um caminho que não é
exatamente novo, mas que foi pouco seguido até então: duas lentes
traseiras, ambas com 12 megapixels. Uma delas é grande-angular com uma
grande abertura de f/1.8 e captura imagens mais amplas, com um ângulo
maior; a outra é teleobjetiva com abertura de f/2.8, que retrata objetos
de uma forma mais próxima, funcionando efetivamente como um zoom óptico
de 2x. É algo que o LG G5 já fazia e que é uma novidade bem-vinda no
iPhone.
O que o iPhone 7 Plus trouxe de novo em termos de câmera só chegou,
na verdade, com a atualização para o iOS 10.1. A empresa implantou o
modo Retrato nas opções de fotografia, que usa as duas lentes em
conjunto para criar uma única imagem, separando o objeto da foto do
plano de fundo e criando um efeito bokeh, que tira o foco do plano de
fundo da imagem. A diferença de outros aplicativos que fazem esta mesma
função é que a câmera do iPhone faz isso em tempo real, sem depender de
ajustes após o clique, como faria uma câmera DSLR muito mais avançada
que as câmeras de celular. Este recurso, no entanto, funciona apenas em
situações de boa iluminação e em condições específicas em que o objeto
da foto está a uma distância ideal da lente.
Apesar de ser uma evolução sobre a câmera do iPhone 6s, que já era
muito boa, é importante ressaltar que a Apple continua pecando em opções
de ajustes avançados para a fotografia. Chega a ser triste comparar as
ferramentas oferecidas por um Galaxy S7, que permitem controlar foco,
ISO, tempo de exposição nos mínimos detalhes, enquanto o iPhone 7 Plus
só oferece a opção de ligar ou desligar o HDR. Para quem entende um
pouco mais de fotografia e gostaria de ter maior controle sobre suas
imagens, é frustrante.

Um outro recurso importante da câmera que merece elogio é o sistema
de estabilização óptica presente nas lentes do aparelho, que são capazes
inclusive de anular a tremulação das mãos e até mesmo manter a imagem
estável quando você está fazendo um vídeo andando. Em nossos testes aqui
na redação, colocamos o iPhone 7 Plus lado a lado com um LG G5 SE e
fizemos ambos gravarem simultaneamente uma breve caminhada seguida de
uma corridinha leve. Foi notável a maior capacidade do celular da Apple
em manter a imagem estável, e a diferença foi intensificada quando o
movimento ficou mais intenso, na parte da corrida.
Houve outro ponto de evolução dos novos iPhones em comparação com os
do ano passado que a Apple atribui à ausência da entrada de fones. Mesmo
sem trocar a tecnologia, que ainda é LCD IPS, a tela melhorou sem
precisar aumentar em resolução, provando que não é só com um alto número
de pixels por polegada que se faz um bom display. O painel agora
reproduz mais cores, apresenta melhor contraste, e a resolução mais
modesta do que os absurdos de 2K e até 4K no ecossistema Android ainda
permite economia de bateria. O brilho também alcança altos níveis,
permitindo boa visibilidade mesmo em dias de sol forte. Isso dito, ainda
é uma sensação mais impactante olhar para a tela de um S7, mesmo que
esta reação seja causada artificialmente pela supersaturação das cores
nos painéis AMOLED da Samsung.
Conclusão
Elas não são inovadoras, mas as duas versões do iPhone 7 continuam
sendo boas opções para quem está disposto a pagar por um smartphone top
de linha. Por fora, ele não muda em quase nada, mas por dentro houve
melhorias importantes de hardware que fazem ele ser um monstrinho de
desempenho incomparável, e sua câmera continua entre as melhores do
mercado, especialmente com o iPhone 7 Plus, que consegue usar duas
lentes em conjunto para criar uma foto melhor.
No entanto, o iPhone 7 é feito para quem está pronto para entrar de
cabeça no mundo da Apple e comprou a ideia de que a entrada de fones é
supérflua. O fim da porta deu origem a melhorias no som, na bateria e na
tela, além da resistência à água, mas é perfeitamente compreensível que
a troca não seja satisfatória para muitos. Quem não está disposto a
embarcar em um mundo sem fio ou lidar com adaptadores talvez esteja mais
bem servido com um Galaxy S7. O iPhone 6s também está aí no mercado e
continua uma boa opção que agora ficou mais barata para quem não quer
saber do Android.
Fonte: Olhar Digital