Milhões de anos atrás, B3 1715+425 era apenas um buraco negro
supermassivo comum. Ele tinha uma vida confortável devorando estrelas e
disparando raios-X mortais no centro de sua galáxia distante. Agora,
sozinho e sem estrelas, ele está gritando pelo espaço a 2.000
quilômetros por segundo – e pode nunca parar.
Os problemas de B3 1715+425 começaram quando suas galáxias se
colidiram. Isso não é muito incomum: astrônomos acreditam que as maiores
galáxias do universo se formaram durante fusões antigas. Normalmente,
quando duas galáxias entram em colisão, os buracos negros supermassivos
no centro delas começam a um orbitar o outro, se aproximando cada vez
mais até uma atração gravitacional inescapável.
Esses buracos negros podem se fundir, liberando uma quantidade imensa de energia na forma de ondas gravitacionais e finalizando a união cósmica.
Na maior parte das vezes, isso ocorre com todas as partes envolvidas,
partindo da ideia de que praticamente todos os buracos negros
supermassivos vivem no centro de galáxias, e quase todos os centros
galáticos contam com um desses buracos negros. Mas de vez em quando algo
dá errado e resulta em destroços cósmicos. B3 1715+425, se distanciando
do núcleo de uma fusão galática desastrada a 2 bilhões de anos-luz da
Terra, é a prova viva disso.
O objeto estranho foi descoberto por astrônomos que usavam o Very
Long Baseline Array (VLBA), uma rede de dez telescópios espalhados pelo
mundo cuja operação fica no estado do Novo México, nos EUA.
“Estávamos buscando pares em órbita de buracos negros supermassivos,
com um deles deslocado do centro de uma galáxia, como uma evidência
reveladora de uma antiga fusão de galáxias,” diz James Condon,
o astrônomo do National Radio Astronomy Observatory, que liderou o
estudo. “Em vez disso, encontramos este buraco negro se distanciando da
galáxia maior e deixando uma trilha de detritos por onde passava.”
A teoria atual é que há milhões de anos, a galáxia do B3 1715+425
passou através de uma galáxia muito maior (uma que foi formada durante
muitas fusões anteriores), e foi completamente despedaçada, mais ou
menos como um avião de papel que tenta atravessar um furacão. Os restos
incluem um remanescente galático fraco, com apenas 3.000 anos luz de
diâmetro, e o buraco negro supermassivo em si, quase nu e sangrando gás
ionizado enquanto caminha pelo vazio.
Astrônomos acreditam que a carnificina cósmica vai se tornar
invisível dentor de cerca de um bilhão de anos, quando o remanescente
galático parar de formar novs estrelas.
“Nunca vimos nada parecido com isso antes,” diz Condon.