A Microsoft e o Hospital 9 de Julho assinaram na última
quinta-feira (20) um acordo para desenvolver tecnologias para apoiar os
cuidados dos pacientes nos hospitais. A parceria usará as soluções de
coleta, armazenamento e análise de dados da Microsoft para melhorar a
estadia dos pacientes internados em diversos aspectos.
Segundo Luiz Pires, o diretor do Centro de Tecnologias
Avançadas (ATL, na sigla em inglês) da Microsoft no Rio de Janeiro, o
projeto será focado na análise de imagens em tempo real. Em outras
palavras, os pesquisadores treinarão computadores a interpretar as cenas
captadas por câmeras para melhorar o funcionamento do hospital.
Primeira aplicação
De acordo com um porta-voz do Hospital 9 de Julho, a
primeira aplicação da tecnologia será o auxílio na prevenção de quedas.
Durante sua internação, alguns pacientes apresentam riscos de quedas
decorrentes de sua condição. Esse risco de queda é identificado nos
pacientes por meio de um dado em seu prontuário e o uso de uma pulseira,
mas mesmo assim, quedas ainda acontecem.
A ideia do hospital é tentar encontrar, em parceria com a
Microsoft, uma solução baseada em dados para ajudar na prevenção de
incidentes desse tipo. Usando dados em tempo real enviados por câmeras,
será possível detectar quando os pacientes estão se levantando e, então,
soar um sinal para chamar um enfermeiro para auxiliá-los.
Essa, no entanto, é apenas uma primeira aplicação que o
hospital imagina para a tecnologia. No futuro, também há interesse em
usar imagens para classificar pacientes de pronto-socorro segundo a sua
urgência. Isso permitiria que o hospital prestasse atendimento de
maneira mais rápida a pacientes com problemas mais urgentes.
Mais aplicações
Para Pires, essa tecnologia permite ainda muitas aplicações
diferentes na área da saúde. Ela já é utilizada em outros setores, como
no varejo (para reconhecerr as emoções de compradores que examinam as
vitrines de lojas) e segurança (para alertar para a presença de pessoas
em locais ou horários restritos, ou para identificar quando um
funcionário está sem capacete).
Em hospitais, contudo, ela também poderia ser usada para
detectar mudanças nos padrões de respiração dos pacientes. Outra
possibilidade seria usar as técnicas de reconhecimento de emoção já
desenvolvida pela Microsoft para avaliar os níveis de dor ou desconforto
dos pacientes em algumas situações, para permitir um atendimento mais
adequado.
Poder de processamento
Como se pode imaginar, é necessário muito poder de
processamento para conseguir compreender, em tempo real, os sinais de
vídeo de diversas câmeras. Segundo Pires, um dos principais focos de sua
equipe é a criação de um sistema de processamento que permita que essa
análise seja feita “com um custo computacional razoável”.
De acordo com ele, esse processamento está sendo feito por
meio da nuvem Azure da Microsoft, e cada máquina virtual da Azure é
capaz de processar os dados de 1 a 3 câmeras. O objetivo da equipe é
conseguir oferecer esse serviço de monitoramento de imagens em tempo
real para a prevenção de quedas a um custo inferior a um dólar por
câmera por dia. No caso de um hospital com uma cama por leito, esse
custo seria, portanto, menor que US$ 30 dólares mensais por cama.
Segurança das informações
O uso de imagens de câmeras de hospitais traz implicações
graves para a segurança da informação. No entanto, Pires garante que as
imagens captadas pelas câmeras não são armazenadas nos servidores da
Microsoft. As imagens são diretamente enviadas para processamento, e não
são armazenadas.
A única situação em que a câmera gravará os dados será na
eventualidade de um alerta. Nesse caso, os enfermeiros poderão ter
acesso às imagens captadas pela câmera. Isso afora, o hospital pedirá o
consentimento de todos os pacientes que ficarem em leitos equipados com a
tecnologia, e as câmeras também têm luzinhas que indicam quando elas
estão gravando.
Tempo do projeto
Segundo o Hospital 9 de Julho, o projeto terá uma duração
inicial de um ano, ao longo do qual os cientistas de dados do ATL
frequentarão o hospital para implementar o serviço. No entanto, Pires
espera ter resultados iniciais antes do fim desse período, e espera
também seguir acompanhando o hospital para melhorar a ferramenta com o
tempo.
Essa tecnologia, contudo, não ficará restrita ao Hospital 9
de julho. De acordo com Pires, outros hospitais também poderão ter
acesso a essa ferramenta. O diretor do ATL também ressalta que inovações
de tecnologias desenvolvidas em parceria entre a Microsoft e hospitais
brasileiros já atraíram o interesse de outros hospitais no mundo. “Nós
queremos ser criadores de inovação, não só consumidores”, disse.
Futuro dos dados
No futuro, Pires vê uma área ainda maior de aplicação de
dados de imagens em tempo real desse tipo. Isso porque, no futuro, as
máquinas serão capazes de juntar e raciocionar sobre o vídeo de
diferentes câmeras ao mesmo tempo.
Por exemplo, um sistema de monitoramento de um prédio
poderá ser treinado para trancar as portas quando detectar alguém
entrando pela janela durante a noite. Esse mesmo sistema então poderá
acionar um alarme e mandar um aviso para o proprietário do espaço. Antes
disso, no entanto, as máquinas ainda precisam ser muito bem treinadas.
Fonte: Olhar Digital