Com a liberação dos bots em plataformas como Facebook Messenger, esses
robôs se tornaram o assunto do momento dentro do mundo da tecnologia.
Mas a verdade é que eles existem há tanto tempo que já começaram a criar
dilemas morais.
Pelo menos 49% dos acessos às páginas da web pelo mundo são feitos
por bots, sendo que mais de 50% dos cliques em publicidade vêm deles,
também. O Twitter estimou, em 2009, que 1/4 do conteúdo postado na rede
saía dos robôs — um número que provavelmente subiu nos sete anos
seguintes.
Como não existe um manual de boas condutas, ou um padrão a ser
seguido pela comunidade de desenvolvedores, os bots correm livres, leves
e soltos pela internet, o que possivelmente causará problemas.
Mesmo na Wikipédia, que é um ambiente controlado, os robôs têm
protagonizado verdadeiras batalhas entre si porque vivem desfazendo os
trabalhos dos colegas. Um time de pesquisadores da Universidade de
Oxford decidiu estudar o comportamento das máquinas dentro da
enciclopédia e percebeu que algumas disputas podem perdurar por anos.
Em 2014, os bots foram responsáveis por 15% das edições de linguagem
na Wikipédia, mas eles também checam digitação, evitam vandalismo, entre
outras coisas. Mas as coisas não funcionam de forma muito harmoniosa.
Por exemplo, em um período de 10 anos humanos revertem edições entre
si em média apenas três vezes, enquanto que, somente na Wikipédia em
inglês, a taxa entre robôs foi de 105 reversões. Na versão em português
foram 185. E os números poderiam ser maiores, caso os robôs não fossem
obrigados a seguir um limite de quantidade de edições.
Humanos, por exemplo, fazem reversões dentro de períodos que imitam
ciclos da vida: dois minutos após o surgimento de uma alteração, 24
horas depois ou um ano depois. Com os robôs o ciclo é sempre mensal.
O problema, segundo especulam os pesquisadores, é que cada um foi
escrito seguindo a terminologia, o idioma e as ideologias de quem os
desenvolveu, então quando topam com intervenções de outros robôs eles
entendem que aquilo se trata de um erro. Agora, se isso tudo ocorre
dentro de um organismo regrado como a Wikipédia, imagine a bagunça de
intervenções que acontece a todo momento na internet, em geral.
“Um número crescente de decisões, opções, escolhas e serviços
dependem agora no funcionamento adequado dos bots”, disse Taha Yasseri,
um dos pesquisadores, em entrevista à revista do MIT. “Ainda assim, sabemos muito pouco sobre a vida e a evolução dos nossos criados digitais.”
Fonte: Olhar Digital