O fenômeno WhatsApp é cada vez mais incompreensível. O aplicativo,
que já existe há seis anos, mudou muito pouco ao longo do tempo. Houve
uma alteração estética aqui e ali, um recurso de chamada de voz,
conversas em grupos maiores, mas no geral, o aplicativo sofre poucas
alterações drásticas.
Na indústria de tecnologia, normalmente quem não evolui fica para
trás. Se seus competidores oferecem recursos que você não oferece,
normalmente a clientela começa a migrar para o serviço mais vantajoso.
Curiosamente, isso não se aplica ao WhatsApp. Por várias vezes repetimos
que o serviço que agora pertence ao Facebook não era a melhor opção,
mas isso nunca impediu seu público de continuar crescendo.
E é por isso que é difícil imaginar um futuro positivo para o Allo, o
novo aplicativo de mensagens do Google. A sua apresentação nesta
quarta-feira, 18, impressionou. Cheio de recursos, cheio de novidades
que dificilmente serão aproveitadas pelo grande público, que já está
ocupado e satisfeito com o combo Messenger+WhatsApp.
Caso você não tenha visto, o Allo é uma iniciativa nova do Google. O
app para Android e iOS usa o número telefônico para identificação, então
para adicionar amigos basta ter seu número, exatamente como WhatsApp, e
ao contrário de como funcionava o Hangouts, que, curiosamente, sequer
foi lembrado durante a apresentação do Allo.
No entanto, a inteligência do aplicativo se destaca. O app vem
equipado com o Google Assistant, o novo assistente do Google, que
identifica palavras chave da conversa para oferecer sugestões. Se a
conversa gira em torno de um restaurante, a inteligência artificial pode
sugerir opções de restaurantes por perto e ainda reservar uma mesa,
tudo sem precisar sair do aplicativo. A ideia é que desenvolvedores de
aplicativos possam integrar seus recursos ao Allo para permitir várias
funcionalidades como esta, como os bots do Facebook.
Outro ponto interessante é a segurança das mensagens. O app conta com
um modo incógnito, similar ao do Chrome. Ou seja: é possível abrir uma
janela de mensagens que se autodestruirão depois de algum tempo, e estas
mensagens serão criptografadas de ponta-a-ponta, como acontece no
WhatsApp, o que impede que sejam interceptadas.
Mas a questão que fica: isso realmente importa? O Telegram, por
exemplo, sempre foi tecnicamente superior ao WhatsApp, permitindo o uso
em PCs, criptografia, conversas em grupo com grande número de pessoas, e
stickers personalizados muito antes do concorrente. Isso nunca foi o
bastante para atrair o público a realizar a migração, exceto nas duas
ocasiões em que o WhatsApp foi bloqueado pela Justiça no Brasil.
É possível que o Allo ganhe destaque por ser do Google, que por si só
é uma marca fortíssima, mas que, como já foi comprovado com o Google+,
não é à prova de falhas. No entanto, a tendência é de que o WhatsApp
continue dominando o mercado, e o aplicativo do Google lute pelo
terceiro lugar apenas.
Na área de plataformas sociais, não importa o quão bom você é, e sim o
quão popular você é. Não importa ser melhor, porque o público quer
ficar onde seus amigos estão, e isso cria um ciclo que impede a mudança
para os concorrentes. Essa é uma barreira que o Google terá que superar
para tentar popularizar o Allo, e a empresa não tem um bom histórico com
isso. Basta, novamente, lembrar do Google+, que é superior ao Facebook
em muitos aspectos, mas é uma cidade fantasma.
Fonte: Olhar Digital