As cores vibrantes de muitas das mais famosas pinturas de Vincent van Gogh – incluindo sua série Girassóis
– estão apagando com o passar dos últimos 100 anos. Agora uma equipe de
cientistas italianos chegou a uma explicação do motivo dos corantes de
cromato de chumbo usados pelo artista degradarem tanto sob a luz. O
trabalho foi descrito na Chemical Science.
Outras pinturas do mesmo período (como os trabalho de Renoir) também
devem apagar, mas as pinturas de Van Gogh são especialmente vulneráveis.
Esse é um dos motivos que fazem o trabalho dele serem uma fonte rica
para cientistas interessados em estudar como certos pigmentos frágeis
degradam com o passar do tempo. Não apenas ele foi incrivelmente
prolífico – produzindo quase 1.000 pinturas em apenas 10 anos – mas
também era obcecado por pigmentos, descrevendo os seus favoritos em
cartas para amigos e parentes e como ele os usava quando misturava
tintas para suas pinturas. Então há um registro extenso histórico e
escrito sobre suas práticas.
No ano passado, cientistas belgas (liderados por Koen Janssens, da Universidade da Antuérpia) usaram mapeamento de difração de raio-X combinado
com tomografia no síncrotron DESY em Hamburgo, na Alemanha, para
estudar a descoloração nos pigmentos de óxido de chumbo vermelho em
“Campo de Trigo Sob Céu Nublado” de Van Gogh. Como escrevi na época na Scientific American:
Às vezes, ele se transforma em plattnerita ou galena,
escurecendo a cor, e outras vezes pode se converter em chumbo vermelho
ou sulfeto de chumbo, o que causa um branqueamento. Eles descobriram um mineral
bem raro chamado plumbonacrite nas pinturas de Van Gogh que parecem
exercer um papel no processo de branqueamento do pigmento. Ao longo do
tempo, a luz desencadeia a absorção de CO2, o que faz a plumbonacrite
ser formada, se transformando em carbonato de chumbo com tons brancos.
A mesma equipe também esteve por trás de um estudo de 2011 sobre o
pigmento amarelo usado pelo artista. Cromo amarelo era moda entre os
artistas do fim do século 19, então foi uma escolha natural para Van
Gogh, que adorava cores fortes e vibrantes.
Mas a exposição à luz solar
forte faz a cor mudar de um amarelo brilhante para um marrom sem graça.
Janssens sugeriu que o crômio no pigmento reagiu com força
particularmente a compostos como bário e enxofre.
Acontece que bário e enxofre eram ingredientes-chave nas tintas
brancas dos tempos de Van Gogh – e o artista frequentemente misturava
amarelo com branco para dar mais brilho às cores. Duas das pinturas que
eles estudaram continham sulfato de bário, provavelmente usadas para
fazer a tinta ficar mais forte, segundo Janssens.
Ainda assim, os motivos precisos do porquê isso faz as tintas ficarem
tão instáveis não estava claro. É aí que entram Ana Muñoz-Garcia e seus
colegas da Universidade de Nápoles Federico II. Eles modelaram a
estrutura química das tintas para descobrir se o enfraquecimento é algo
que acontece só na superfície, ou se é um problema estrutural. A má
notícia: é a segunda opção, o que significa que há muito pouco o que
conservacionistas de arte possam fazer, além de limitar a exposição das
pinturas à luz solar.
“O sulfato puro é o vilão da história,” explicou Muñoz-Garcia à Chemistry World.
“Todos os sulfatos querem ficar juntos para minimizar o estresse no
material. Então por causa da segregação, você gera esse sulfato. E como o
sulfato absorve nos raios UV, você tem degradação”. Cromo amarelo
brilhante se transforma em um verde sem graça.
O que Janssens acha desse novo estudo? Ele se mantém cético, já que
essas teorias são baseadas em simulações de computador. “Temos alguns
dados experimentais nisso e podemos comparar as previsões com a
realidade,” ele disse à Chemistry World.
Fonte: Gizmodo