Poucos minutos depois da meia noite você é acordado pelo barulho de
uma janela quebrando em algum lugar da rua. Você olha para fora e vê que
dois homens aparentemente estão roubando o carro do vizinho. E em vez
de ligar para a polícia, você saca o seu celular e grava tudo no
Periscope.
Esse cenário pode muito em breve se tornar realidade graças a uma
ideia sendo proposta à cidade de Bangalore, na Índia. Inspirado pelo uso
do Periscope em uma conferência recente, MN Reddi, o comissário de
polícia da cidade — que emerge como uma estrela das redes sociais, com mais de 290.000 followers no Twitter
— propôs que os cidadãos reportem crimes usando o app de live-streaming
como parte de uma nova estratégia de “policiamento comunitário”.
Parte do plano inclui usar o Periscope para transmitir as coletivas
de imprensa, usando perguntas dos residentes locais. A eventual ideia é
que a polícia seja alertada dos crimes que estão acontecendo com o
Periscope, de modo que a localização seria automaticamente determinada
e, além de tudo, a gravação das imagens do ocorrido poderia ser usada
como evidência. Ainda não temos detalhes de isso seria gerenciado, mas
acredito que uma hashtag destinada à polícia no Tweet seria o suficiente
para alertar as autoridades, que poderiam tomar as providências
necessárias. “Esperamos que isso funcione como uma câmera de vigilância
ao vivo no bolso de todo mundo”, disse um policial anônimo ao The Economic Times.
Usar as redes sociais para capturar criminosos pode ser um pouco
perigoso. Depois dos tumultos após o resultado da Copa Stanley de 2011,
em Vancouver, a polícia pediu à população que a ajudasse a identificar
vândalos por meio de fotos no Facebook e vídeos do YouTube — e isso gerou uma série de linchamentos públicos contra os vândalos, o que fez com que eles perdessem emprego e moradia. Um estudo publicado após o ocorrido em Vancouver concluiu que policiamento feito pela população desacelera e prejudica investigações oficiais — especialmente quando é muito fácil fabricar imagens falsas. Isso foi feito no Reddit, na caça às bruxas aos terroristas da maratona de Boston.
Entretanto, live-streaming é um pouco diferente, já que manipular as
imagens fica um pouco mais difícil, mas ainda existe a possibilidade de
vigilantes verem o vídeo e decidirem fazer justiça com as próprias mãos —
e, além disso, as pessoas poderiam pregar peças nos policiais. Para
completar, a polícia pode se ocupar tanto em investigar os casos que
irão surgir no Periscope que se esquecerá dos casos pela cidade que não
forem divulgados na rede. Existe ainda a possibilidade do criminoso
perceber que está sendo filmado e tentar machucar a pessoa responsável
pelo feed.
Se a polícia está encorajando cidadãos a usar o Periscope para
reportar crimes, esperamos que estes mesmo cidadãos também se sintam
livres para usar a rede quando forem abordados pela polícia. O Periscope
é, de muitas formas, o equivalente a uma câmera de corpo usada pelos
polícias, exceto que ele não armazena o conteúdo na câmera, mas a joga
na rede automaticamente.