Então é claro que o Google vai se esforçar em vender essa comparação
com o Gmail. É uma boa analogia, e uma prova de que centenas de milhões
de pessoas pelo mundo confiam ao Google seus dados privados.
É o suficiente para mim. Eu já vi o que o Google Fotos consegue fazer.
E, o mais importante – assim como quando eu mudei para o Gmail – eu não
tenho nada a perder. Essas fotos estão simplesmente guardadas em HDs.
Quem mais vai me ajudar a filtrá-las? “Você precisa de férias só para
encontrar todas as fotos do safári que fez durante suas férias”, Horowitz disse recentemente. É assim que eu me sinto.
Claro, existem muitos outros serviços que me ajudariam a guardar meus
mais de 300 GB de fotos na nuvem e até compartilhá-las com amigos – por
um preço. Eu pago pelo Amazon Prime, o que significa que eu já tenho armazenamento ilimitado para fotos
para usar quando quiser. Mas eu não uso porque seria como pegar minhas
memórias desorganizadas de um lugar e colocar em outro. Sinceramente,
até hoje eu nem me preocupei em saber o que aconteceria com aquelas
fotos todas se eu parasse de pagar pelo serviço da Amazon.
Agora, eu não preciso me preocupar com isso. Eu tenho 28.000 imagens e
vídeos sendo enviados para o Google Fotos agora mesmo, porque a
combinação de grátis e ilimitado significa que eu nunca precisarei me
preocupar com coisas como essa. E, em troca do acesso a essas memórias,
eu finalmente poderei navegar por essas fotos de forma lógica. O fato do
Google conseguir criar GIFs animados e álbuns de fotos automaticamente é
a cereja do bolo.
Eu quero ter acesso fácil e rápido a todas as minhas imagens. E eu
estou disposto a dar muitos dados pessoais para uma empresa para
conseguir isso.

O equivalente em papel aos GIFs animados – uma ilusão de lente lenticular.
Em meio ao meu upload das imagens, entretanto, comecei a pensar nas
consequências dessa decisão. Meg Neal, editora-assistente do Gizmodo,
me disse que ela sente que as fotos são mais pessoais do que os emails,
e se preocupa com o que aconteceria caso o Google fosse hackeado. Nem
todo mundo confia os emails ao Google, aliás!
É um pouco assustador pensar que os robôs do Google vasculham meus
emails para ajudar na venda de publicidade, mesmo que isso faça com que
esses anúncios publicitários sejam mais relevantes para mim, e mesmo que
o Google tenha admitido que esse era seu modelo de negócios quando lançou o Gmail em 2004.
Se alguma me incomoda no Google Fotos é que o Google não admite como
planeja pagar por todo esse espaço ilimitado para fotos e vídeos
oferecido gratuitamente para seus usuários. “Não temos nenhum plano de
fazer alguma coisa de uma perspectiva de rentabilização ou publicidade”,
disseram representantes do Google durante a conferência I/O. Neste dia,
o Google falou várias e várias vezes sobre como fotos são privadas, e
como são importantes para conquistar a confiança dos usuários.
Ainda assim, em uma excelente entrevista, Horowitz disse que o Google pode oferecer serviços baseados nesses dados no futuro:
A informação recolhida a partir da análise dessas fotos
não viaja para fora desse produto – não hoje. Mas se eu achar que
podemos devolver um valor imenso aos usuários com base nesses dados,
tenho certeza que vou considerar fazer isso. Por exemplo, se for
possível para o Google Fotos perceber que eu tenho um Tesla, e a Tesla
quiser me alertar de um recall, esse seria um serviço que eu
consideraria oferecer, com controles apropriados e deixando tudo bem
claro aos usuários.
É difícil ignorar que o Google está no negócio de transformar fluxos
gigantescos de dados em publicidade e serviços personalizados. É isso o
que o Google sempre faz. E assim como no caso do Gmail, a capacidade
renovada do Google em analisar o que está dentro das imagens é uma faca
de dois gumes.
Por mais sensacional que seja reviver tantas memórias precisando só
digitar algumas palavras, pense em quem mais pode se beneficiar disso. O
que fará o Google quando a Coca-Cola oferecer alguns milhões para saber
se seus anúncios estão aparecendo nas nossas fotos? O que o Google fará
quando a NSA pedir para ver todas as fotos com “bombas” ou “armas”?
E, em algum momento, o Google pode ter tantas fotos e vídeos seus que
não será nada fácil se desligar disso. Você não vai gostar da mudança
na política de privacidade do Google sobre quem pode acessar suas fotos,
mas se você quiser sair do serviço, vai precisar comprar dois discos
rígidos e baixar uma coleção gigantesca de fotos e vídeos que você nunca
se preocupou em organizar. Desta vez, você terá muito a perder: tempo,
dinheiro, e uma conveniência imensa que você provavelmente ficou
acostumado a ter. Então provavelmente você não vai deixar o Google Fotos
de lado.

Nenhuma dessas preocupações me impediu de enviar minhas fotos. Ainda
não consegui mandar todas, mas já estou maravilhado com álbuns,
panoramas e GIFs animados que o Google criou automaticamente para mim
conforme novas imagens eram enviadas. Isso inclui fotos antigas de
amigos e parentes, que vieram de uma pasta antiga que esqueci que tinha,
graças a um reconhecimento facial avançado; e a capacidade de dar zoom
sem nenhuma dificuldade nas fotos da minha viagem a Maui.
Estou preso, e não posso mais me livrar disso. Esta tecnologia chegou
para ficar. E não importa se você vai usar Google, Yahoo, Amazon ou
qualquer outra empresa que atualizar o serviço para se aproximar do
Fotos, sempre nos lembraremos do momento em que o Google mudou tudo.