Em novembro do ano passado, na Filadélfia, nos EUA, uma criança de
nove anos que não teve o nome revelado organizou um aplicativo que
permitia a uma rede privada de famílias compartilhar meios de
transporte, criando uma espécie de Uber, o app que tem irritado taxistas
no mundo inteiro. A ideia surgiu a partir de uma dificuldade: ele não
podia ir aos jogos depois da escola porque, assim como muitas crianças,
seus pais estavam no trabalho naquele horário.
Este não é um caso
isolado: aplicativos como o projeto concebido nos EUA estão surgindo em
todo o mundo e se tornando cada vez mais comuns; o mais surpreendente é
que muitos deles surgem a partir de ideias de crianças. De olho nesta
oportunidade, escolas e organizações têm se dedicado a ensinar os
princípios básicos do código às crianças, e o que estamos vendo agora é
um reflexo disso em prática.
A ingenuidade dos pequenos e sua
afinidade com as plataformas digitais são consideradas as principais
características necessárias para semear a essência da próxima geração de
startups. Este movimento está chamando a atenção dos investidores.
Analistas de mercado recomendam que as empresas prestem atenção na
produção e no interesse de jovens e crianças pela tecnologia, pois dali
podem surgir boas possibilidades de encontrar soluções eficientes para
os problemas do mundo e, consequentemente, aumentar as chances de fazer
sucesso no setor.
O Votr, por exemplo, é um aplicativo que vai chegar em breve no mercado e
pode ajudar os eleitores mais jovens a fazer escolher políticas com uma
linguagem da “geração do twitter”. "A maioria dos jovens está
procurando um aplicativo que faz algo simples, que resolve um problema
de uma forma simples e não tem um monte de mecanismos de comercialização
futura incorporada", opina Kwame Anku, diretor da organização
#YesWeCode, que trabalha para melhorar a vida de jovens pobres por meio
da tecnologia.
O app “I’m Okay”, também criado por jovens,
permite que os adolescentes LGBT compartilhem histórias sobre
sexualidade e gênero, ajudando-os a lidar com as suas próprias
experiências. Com recursos fáceis de usar e interface limpa, o app se
identifica com os jovens ao oferecer uma coleção de histórias pessoais.
O aplicativo demonstra motivações socialmente conscientes por parte dos
jovens, preenchendo uma lacuna no mercado. Ele foi desenvolvido por
quatro adolescentes com o apoio da Thomson Reuters e da Apps for Good,
grupo com sede em Londres que faz parcerias com escolas para ensinar
codificação.
Outro ponto importante sobre o ensino de codificação
para as crianças é que ele representa uma chance real de diversificar o
setor de tecnologia, uma indústria que sempre precisa de variedade.
Emily Reid, diretor currículo Girls Who Code, grupo norte-americano que
ensina competências digitais a meninas, afirmou: “Essa perspectiva
diversificada é fundamental para a inovação; o mercado de tecnologia
seria estagnado sem ela". Para ela, os jovens, mais especificamente as
mulheres, podem contribuir para a criação de um mercado de tecnologia
socialmente consciente e melhor conectado com os usuários.
A próxima geração
Exemplos como estes
aplicativos sinalizam o início de uma nova era em que nativos digitais
estão criando tecnologia para eles próprios. A tecnologia criativa está
sendo inventada por mentes jovens com possibilidade de representar um
novo mercado importante e valioso: a próxima geração de usuários e
consumidores.